No silêncio de uma noite qualquer, enquanto as máquinas avançam em sua lógica implacável e os céus se enchem de satélites, nos perguntamos: para onde está caminhando a humanidade? Olhamos para os avanços tecnológicos que parecem prometer cura para doenças, viagens a outros planetas, máquinas capazes de pensar por nós. Mas, ao mesmo tempo, o mundo real arde. Conflitos atravessam continentes e ódios ancestrais, que acreditávamos que poderiam ser sepultados, ressurgem com força renovada. A promessa de um futuro regenerador parece cada vez mais um sonho distante.
Por que, em meio a tanto progresso, tropeçamos nos mesmos erros? A resposta pode ser tão óbvia quanto desconcertante: ainda não aprendemos a viver como humanos. Criamos máquinas para superar nossos limites, mas não enfrentamos nossas próprias sombras. Construímos pontes no espaço, mas ainda cavamos abismos na alma. Vivemos em um paradoxo, como andarilhos que carregam mapas incríveis, mas esqueceram como andar.
Talvez seja hora de olharmos para dentro, para confrontarmos a guerra mais antiga de todas: a batalha travada no coração humano. É aqui, nesse campo invisível, que as grandes guerras começam e terminam. Grandes líderes mundiais falam de paz, mas o que realmente fazem para construí-la? Pessoas que deveriam ser os arquitetos de um mundo melhor, muitas vezes revelam-se prisioneiros de seus próprios medos, de suas vaidades e da fome insaciável de poder.
Platão, em seu mito da caverna, revelou uma verdade que ecoa até hoje: somos prisioneiros de uma realidade limitada, criada por nossas percepções distorcidas. Muitos preferem as sombras porque a luz exige algo assustador: transformação. É mais fácil culpar o outro, buscar justificativas no externo, do que admitir que somos parte do problema. O egoísmo, a vaidade e o orgulho não são apenas defeitos individuais. São forças que moldam culturas inteiras, criando sistemas que perpetuam desigualdades e conflitos.
A Terra não é um lugar perfeito, mas há esperança. Sempre há. A humanidade tem o extraordinário dom de renascer das cinzas. O progresso real, aquele que não se mede em gigabytes ou quilômetros percorridos no espaço, mas em profundidade de espírito, começa naquilo que ninguém vê: o esforço diário de transformar a si mesmo.
Alguns confundem paz com silêncio. Outros acreditam que a paz é a ausência de brigas. Muita gente faz silêncio por fora, mas traz a alma sobrecarregada de ruídos. A paz não é ausência de conflito, e sim a presença de coragem. Coragem para perdoar quando seria mais fácil odiar ou para escolher a empatia em um mundo que premia a indiferença.
Os precursores da paz transcendem a mediocridade e, pelo exemplo, libertam as mentes aprisionadas, iluminando o caminho para a compreensão de que vencer as paixões que alimentam os conflitos é a chave para o triunfo da verdadeira paz, que nasce, primeiramente, dentro de cada um de nós.
É hora de olharmos para o futuro com novos olhos. Não como espectadores passivos esperando que a humanidade “dê certo”, mas como artífices conscientes de um novo destino. Somos a geração que pode decidir se a tecnologia será nossa libertação ou nosso algoz. Somos aqueles que podem provar que o amor, longe de ser um clichê, é a força mais revolucionária do universo.
Se tudo isso parece utópico, lembre-se: toda grande mudança começou com um sonho que parecia impossível. Gandhi não precisou de exércitos para transformar a Índia. Mandela não precisou de armas para desmantelar o apartheid. Você, em sua vida, pode ser o ponto de inflexão para alguém, o começo de uma cadeia de transformação que ressoe muito além do que se pode imaginar.
A guerra mostra-se congênita à natureza humana. Os conflitos armados produzem armas que ferem o corpo, ceifando vidas ou criando enfermidades materiais. Mas a guerra cujo despojo cria maior dor é o conflito social que usa armas que ferem a alma. A conexão com Deus, da maneira de cada um, pode trazer a luz do discernimento e a paciência para seguir confiante. Sejamos precursores da paz nessa guerra diária contra nossos instintos.
Que o novo ano nos encontre mais dispostos, mais humanos, mais conscientes. Que a luz nos guie para fora das cavernas internas que habitamos há tanto tempo. E que, ao olharmos para os céus, não vejamos apenas satélites ou estrelas, mas o reflexo do que podemos ser: uma humanidade que finalmente encontrou seu propósito maior, que é de viver em paz consigo mesma e com o universo.
*Sandro Brandão é mestre em Propriedade Intelectual e Inovação, especialista em Transformação Digital e Inovação no setor público, com mais de 20 anos de experiência. Atua na liderança de projetos estratégicos em Mato Grosso, focando na modernização e digitalização dos serviços governamentais.