O inquérito da Delegacia Especializada em Combate à Corrupção (Deccor) apontou que servidores que se negavam a fazer parte do esquema de corrupção instalado no Departamento de Água e Esgoto (DAE) de Várzea Grande eram intimidados pelos integrantes da organização criminosa.
A situação veio à tona na última sexta-feira (20), quando foi deflagrada a Operação Gota D’Água, ocasião em que foram presas diversas pessoas, entre elas o diretor comercial do DAE, Alessandro Leite de Campos, e o vereador Pablo Pereira (União), apontado como líder do esquema.
Conforme relatos de servidores que serviram de testemunhas no inquérito, aqueles que não aceitavam fazer parte do suposto grupo criminoso eram ameaçados e intimidades pelos colegas corruptos. Duas situações são apontadas como exemplos.
O primeiro caso foi registrado em maio de 2023. Um consumidor foi até o DAE e não foi atendido. No dia seguinte, o cliente voltou e foi dada uma ordem para que uma servidora que sequer trabalhava com atendimento ao público atendesse o consumidor, enquanto outros funcionários estavam desocupados.
A servidora se recusou a atender o consumidor e discutiu com Victor Hugo Mendes Assunção, apontado como integrante do grupo criminoso. No horário do almoço, a servidora encontrou seu carro com dois pneus murchos. Após atendimento em oficina mecânica, foi informada que eles haviam sido esfaqueados.
Imagens de câmeras de segurança mostraram que, em um espaço de nove minutos, Victor foi até a área do estacionamento e voltou. Um boletim de ocorrência foi registrado e a servidora foi transferida para outra unidade.
Outro episódio ocorreu em abril de 2024, quando um consumidor procurou o procurador-geral do DAE, Renan Domingues Barros, para informar que o servidor Alex Sandro cobrou R$ 7 mil a vista para executar um serviço. Contudo, o valor não foi pago para a empresa, mas para ele.
O procurador orientou o consumidor a não pagar o valor e denunciou a cobrança. Posteriormente, Alex Sandro de Proença ameaçou o procurador-geral do DAE, mandando outras pessoas avisarem que “onde ele encontrar o Renan, vai acabar com o Renan”. Em outro episódio, Alex Sandro encontrou o referido cliente e o procurador em uma festa julina da OAB. Ele se dirigiu ao cliente com dedo em riste e, em tom ameaçador, disse “nós temos que conversar”.
Renan Domingues Barros disse à Deccor que teme pela sua segurança.
As informações foram levadas em consideração pela Justiça, que decretou mais de 100 ordens judiciais.
Ao todo, 11 pessoas foram. Conforme a investigação policial, “parte significativa” dos servidores lotados na Diretoria Comercial, integravam o esquema que, em cinco anos, causou um prejuízo de R$ 11,3 milhões aos cofres públicos.
A investigação apontou que os servidores cobravam para realizar serviços que eram responsabilidade do DAE oferecer aos cidadãos de Várzea Grande. Uma auditoria revelou, ainda, que os valores devidos por usuários dos serviços de saneamento eram reduzidos indevidamente ou até mesmo excluídos do sistema, mediante recebimento de dinheiro.
Por determinação do Juízo do Núcleo de Inquéritos Policiais de Cuiabá (Nipo), a Prefeitura de Várzea Grande interviu na gestão do DAE para restabelecer a prestação regular e efetiva do serviço público de abastecimento de água e esgoto, que foi cooptado pelo grupo criminoso.
Outro alvo preso na operação foi o vereador Pablo Pereira (União), acusado de usar a estrutura pública como forma de obter vantagem política, usando servidores em favor da sua campanha à reeleição.(Repórter MT/Aparecido Carmo)