Conhecida como “droga zumbi”, a K9 preocupa usuários, profissionais de saúde e autoridades em Mato Grosso. A Secretaria de Estado de Segurança Pública afirma que não há registros oficiais de apreensões no estado, mas relatos indicam que a substância sintética circula nas ruas de Cuiabá e região.
Na última sexta-feira (7), quatro pessoas foram presas durante a Operação Sintétics. A operação cumpriu 52 ordens judiciais contra uma associação criminosa que comercializava drogas sintéticas em Cuiabá, Cáceres, a 220 km da capital, e Natal (RN). A ação também resultou na determinação de tornozeleiras eletrônicas para outros 13 suspeitos.
Relatos de usuários
Segundo a responsável por dois centros terapêuticos em Várzea Grande, Celina Gonçalves, existe uma alta presença da K9 entre os pacientes atendidos. O relato de maconha sintética misturada com outras substâncias perigosas acaba sendo comum.
Uma mulher de 27 anos, que preferiu não se identificar, compartilhou sua experiência ao chegar a uma casa de recuperação após sofrer convulsões provocadas pelo uso de maconha e cocaína.
“Comecei com 19 anos, perdi minhas duas filhas, a guarda delas, passei por dois processos. Os médicos acharam que eu não tinha mais jeito. Perdi tudo o que eu amava, e as drogas pareciam ter todo o amor que eu sentia pelas pessoas e pela minha família”, diz.
Outro usuário, que lutou contra o vício por 14 anos, relatou as consequências físicas do uso. Mesmo apresentando tremores, ele está limpo, mas relembra a jornada:
“Comecei com bebida, cocaína, e depois conheci a pasta base. Uma vez, usei algo que parecia misturado com K9. Fiquei muito estranho. Acho que foi essa substância”, conta.
Outra vítima confirma a presença da droga em Cuiabá.
“Usei K9 uma vez, enganada, achando que era maconha. Tem muita gente usando aqui em Mato Grosso.”
O que é a droga K9?
A K9 é uma maconha sintética, desenvolvida originalmente em laboratórios para fins medicinais, mas abandonada devido aos efeitos colaterais severos. O psiquiatra Gleisson Libardi explica a potência da substância:
“Ela é cem ou duzentas vezes mais potente que a maconha natural. Apesar de criada para pesquisas, acabou nas ruas, virando a droga K, com efeitos devastadores”, explica.
Segundo Libardi, o uso contínuo da K9 pode causar danos cerebrais irreversíveis, afetando cognição e equilíbrio emocional. Para ele, a primeira etapa para sair desse ciclo é a consciência e a pessoa precisa entender que aquele hábito traz prejuízos e buscar ajuda.
Operação Sintétics
A operação começou após a prisão de um casal que vendia drogas sintéticas em festas e no meio universitário. Segundo a Politec, a análise dessas substâncias pode ser feita com equipamentos específicos, como o cromatógrafo gasoso acoplado à espectrometria de massas, possibilitando identificar a composição química da K9.
A circulação silenciosa dessa droga devastadora e os efeitos irreversíveis preocupam as autoridades e escancaram os desafios do combate às drogas sintéticas no estado.(G1/Leandro Agostini, TV Centro América)