Depois de recuar até 1,66% de manhã por causa do aumento de juros feito pelo Banco Central na quarta-feira (11), o dólar comercial passou a subir e terminou o dia de volta no nível de R$ 6 porque empresas que têm compromissos a saldar no exterior — como importadores — aproveitaram a cotação mais baixa em duas semanas para comprar a divisa.
A Bolsa de Valores de São Paulo manteve forte queda desde a abertura após o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidir na noite passada aumentar a taxa básica de juros da economia em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano. A medida surpreendeu a maior parte dos analistas, que esperava uma alta de 0,75 ponto. Para a Bolsa, a elevação dos juros é uma má notícia, já que incentiva os investidores a abandonar as ações por investimentos em renda fixa. Companhias que dependem do consumo interno sofrem mais.
O que aconteceu no mercado
O dólar comercial encerrou o expediente em alta de 0,69%, vendido a R$ 6,009. A cotação comercial, utilizada nas transações entre empresas, é referência para todas as outras cotações no país.
A moeda americana sustentou uma sólida baixa durante toda a manhã e chegou à cotação mínima de R$ 5,869 na venda por causa da surpreendente elevação dos juros. Um dos efeitos da alta de juros é atrair investidores do exterior para as aplicações de renda fixa no Brasil, o que contribui para baixar a cotação da moeda americana. Também estava ajudando a derrubar o dólar nesta quinta (12) a intervenção feita pelo BC no mercado de câmbio, com dois leilões de venda da moeda, que haviam sido anunciados na noite da véspera.
Depois de a moeda acumular diversos recordes de alta nas últimas duas semanas, quem precisa comprar moeda em grandes volumes aproveitou a queda da manhã desta quinta (12) para reforçar o caixa, segundo operadores do mercado de câmbio. Movimentos especulativos de aposta na elevação da divisa não estão sendo notados.
O dólar turismo também mudou de tendência perto do fechamento. Terminou o dia em alta de 0,48%, vendido a R$ 6,26.
O Ibovespa, principal índice acionário da Bolsa brasileira, recuou 2,74%, para 126.042 pontos. Na véspera, tinha avançado 1,01%.
As ações que se destacaram entre as mais negociadas e as maiores quedas na Bolsa nesta quinta (12) foram de empresas especialmente prejudicadas pelo aumento da Selic. O papel da própria Bolsa B3 (B3SA3) caiu 1,35%, para R$ 10,25, diante da perspectiva de redução de negociações. O do Magalu (MGLU3) perdeu 8,36%, a R$ 8,44, devido ao temor de que as vendas a prazo — ferramenta muito importante para os varejistas de móveis e eletrodomésticos — diminuam.
Com a decisão da véspera, o Copom colocou a taxa Selic no nível mais elevado desde novembro de 2023. Ainda indicou que, se for necessário para conter as previsões e a própria inflação, o BC pode realizar mais dois aumentos de 1 p.p. nas suas próximas duas reuniões, em janeiro e março, levando a taxa para 14,25% ao ano. Os especialistas de diversas instituições financeiras já estão projetando que o BC poderia chegar a subir a Selic para 15% ao ano no primeiro semestre do ano que vem.
Movimento do câmbio
O aumento dos juros sobre a taxa de câmbio atrai investimentos de fora do país para produtos de renda fixa, como títulos públicos. Ao fazer essas aplicações, os investidores precisam trocar dólares por reais, o que acaba reduzindo as cotações.
Boa parte da queda do dólar nesta quinta (12) era uma antecipação desse movimento. Investidores locais desmontaram operações de compras futuras que haviam feito para apostar que a moeda americana continuaria se apreciando contra a brasileira, já que agora existe um motivo concreto para as cotações caírem nos próximos meses. Além disso, com medo de mais baixas, exportadores que tinham dólares provenientes de vendas externas correram para se desfazer das divisas. Quem está na ponta contrária comprou em maior volume, o que pressionou as cotações.
Outro motivo para a baixa observada de manhã foi a mensagem de credibilidade que o Copom mandou com a alta mais agressiva dos juros. Com o encerramento, neste mês, do mandato de Roberto Campos Neto na liderança do BC, havia uma dúvida, em uma parcela do mercado, sobre quão firme poderia ser seu sucessor, Gabriel Galípolo, na gestão da política monetária — que é a estratégia de administração dos juros. Como Galípolo foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que é favorável a políticas de estímulo ao consumo, alguns analistas achavam que o novo presidente do BC poderia ser mais leniente com a Selic. Ao avisar que o novo mandato começa com uma alta de de juros de 2 p.p., o Copom pretende dirimir essas dúvidas: Galípolo já faz parte do comitê de participou da decisão unânime que decidiu pelo aumento mais forte dos juros.
Ainda na noite de quarta (11), o BC anunciou uma intervenção no mercado de câmbio para impedir maiores altas da moeda americana. Desde meados de setembro, o dólar teve apreciação de 10% ante o real. Na própria quarta (11), recuou 1,3%, vendido a R$ 5,968. Foi a primeira vez em duas semanas em que a moeda ficou abaixo de R$ 6. A disposição do BC em agir para impedir que a divisa continue subindo está contribuindo para moderar o movimento de alta nesta tarde.
A modalidade de intervenção que o BC usou é o chamado “leilão de linha”. Participam dele somente instituições financeiras credenciadas (de forma geral, grandes bancos), que usam esse dinheiro para suprir a demanda do mercado em geral. As divisas oferecidas são provenientes das reservas nacionais, atualmente em cerca de US$ 360 bilhões. Esse leilão funciona, na realidade, como um empréstimo, porque tem compromisso de recompra pelo BC em uma data futura: as instituições precisam revender os dólares que pegaram para o próprio BC pela taxa de câmbio futura. Mas, no intervalo em que estão circulando no mercado, as moedas ajudam a conter a cotação — é a lei da oferta e da procura em ação.
O leilão teve duas fases, entre 10h e 11h da manhã. Os US$ 2 bilhões ofertados em cada etapa foram totalmente vendidos — ou seja, o valor total injetado no mercado foi de US$ 4 bilhões. A primeira parcela tem recompra agendada para 4 de fevereiro de 2025, e a segunda, para 2 de abril de 2025. A última intervenção do BC tinha acontecido em 13 de novembro, também com um leilão de linha, com a venda de US$ 4 bilhões.(UOL/Denyse Godoy)