A Polícia Federal conduz uma investigação sigilosa para apurar como funcionava o esquema de venda de sentenças descoberto após perícia no telefone do advogado Roberto Zampieri, morto em dezembro de 2023, em Cuiabá. Entre os alvos da investigação estão servidores de ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília.
Conforme mensagens divulgadas pela revista Veja, os valores das decisões chegavam a custar até R$ 100 mil.
Em um dos diálogos divulgados pela revista, um empresário, depois de ter conseguido antecipadamente a minuta de um voto encomendada por um comparsa, cobra valores do advogado Roberto Zampieri em um processo que envolvia o litígio de um dos maiores bancos do país no Mato Grosso. Tratava-se da compra de uma fazenda em Barra do Garças (MT) em que parte do pagamento seria feito a partir de operações de crédito da instituição financeira, que agora cobrava a quitação do passivo.
Com a decisão efetivamente assinada pelo ministro em questão, o lobista comemorou quando comparou o rascunho do voto, a que teve acesso depois de negociar o pagamento a um servidor do gabinete, e a decisão efetivamente tomada: “até a virgula é igual”, escreveu em uma mensagem apreendida pela PF.
Semanas depois, o empresário volta a acionar Zampieri e cobra R$ 50 mil para repassar ao “amigo”, identificado nas mensagens como chefe de gabinete e homem de confiança de um dos ministros do STJ. Em um áudio também em poder dos investigadores, o lobista relata que o mesmo chefe de gabinete ligou diretamente para ele perguntando sobre pagamentos em atraso ou, nas palavras dele, o dinheiro “daquele caso que falta da Cátia”. A polícia ainda investiga o contexto completo do diálogo.
Em uma nova conversa, o homem relata que sua esposa recebeu um telefonema cobrando a quitação de propinas em aberto.
Roberto Zampieri informa, na sequência, que não receberia os valores do achaque naquele dia e se certificou de qual servidor do STJ cobrava insistentemente o pagamento. As investigações apontam que cada decisão podia ser comercializada por valores que variavam de R$ 50 mil a R$ 100 mil.
Tempos depois, o empresário envia um áudio em tom ameaçador ao parceiro. Reclama que Zampieri estava deixando os servidores do STJ irritados com o atraso nos pagamentos e dizia que tentava despistar, alegando que supostamente não tinha conseguido contato com ele para cobrar o devido. O temor de ambos era o de que a eventual inadimplência na quitação das propinas colocasse o esquema em risco. “Depois dá uma zica no seu trem lá…”, alertou.
Assassinato
Zampieri foi assassinado em dezembro de 2023, enquanto saia do escritório em que trabalhava no Bosque da Saúde, em Cuiabá.
Conforme a Polícia Civil de Mato Grosso, Roberto Zampieri foi morto a mando do fazendeiro Aníbal Laurindo.(Repórter MT)