O Brasil é o país mais ansioso do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde. Aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica, o que equivale a mais de 20 milhões de pessoas em números absolutos. É preocupante observar que 31% dos mais afetados são jovens entre 18 e 24 anos e mulheres (34%).
Diante desse contexto, é importante analisar se a ansiedade tem sido uma resposta normal do nosso corpo às atividades do cotidiano em comparação com aquela ansiedade diagnosticada como patológica. Existem três pontos importantes para avaliar o quadro do paciente e identificar a TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizado.
Primeiro, a frequência. Quantas vezes você tem sentido essa ansiedade: uma, duas, três vezes na semana? Ao dia? Que lugares e qual é a frequência da ansiedade? O ponto dois é a intensidade, observar se essa ansiedade é leve, moderada ou intensa. Por fim, o quanto essa ansiedade interfere na vida, se você tem deixado de fazer atividades ou frequentar lugares por causa dela.
Se a ansiedade se tornou a sua vida disfuncional, se ela é frequente e intensa, é importante buscar ajuda para que isso não se agrave desencadeando ou agravando outras patologias. Um estudo realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Complementar (IESS) divulgado no ano passado apontou que as internações por ansiedade mais que dobraram em quatro anos, subiram de 11,1% para 13,5%, entre 2020 e 2023.
Além de identificar o que estamos sentindo, é importante observar que situações, crenças e hábitos potencializam a TAG. Fazer psicoterapia é essencial nesse processo para identificar quais mudanças precisamos fazer e como efetuá-las, de maneira efetiva e assertiva, gerando maior bem-estar e equilíbrio.
Afinal, o que pode desencadear o transtorno da ansiedade? Assim como acontece com outras enfermidades, as causas exatas ainda não são totalmente conhecidas. Mas alguns fatores de risco são conhecidos, tais como: questões genéticas e/ou comportamentais, eventos traumáticos, surgimento de doenças graves, abuso de álcool e drogas ou efeito colateral de algum medicamento (hipotireoidismo por exemplo).
O uso excessivo de tela já é considerado um fator de risco porque aumenta o estresse e está ligado a uma piora na saúde mental em todas as faixas etárias. Um estudo do ano passado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que a exposição prolongada pode afetar o cérebro funcionando como um estimulante, além disso, como o algoritmo das redes sociais reforça os pensamentos do indivíduo, sejam eles de alegria ou tristeza, isso pode potencializar os sintomas da ansiedade.
Talvez seja necessário fazer diversas mudanças na rotina, o que inclui diminuir o uso do celular, aliar o tratamento (psicoterapêutico e/ou farmacológico) à prática de exercícios físicos, adotar alimentação balanceada e saudável, e fazer a regulação do sono, que precisa ser em quantidade suficiente e de qualidade. Se você foi diagnosticado com transtorno de ansiedade, é importante evitar substâncias estimulantes, como o café.
No que tange à hábitos comportamentais, é fundamental observar como é sua postura em relação à rotina, você costuma querer ter controle sobre tudo e todos? Sofre muito e com antecedência aos fatos e acontecimentos? Dá muita importância a opinião alheia? Infelizmente, focar naquilo que não podemos controlar costuma gerar uma preocupação constante, que se torna um fardo. Permita-se soltar o controle e focar apenas no que pode controlar, que é você mesmo.
Como identificar os primeiros sinais? A manifestação do transtorno de ansiedade generalizada pode surgir como uma agitação que leve à insônia, que se transforma em um cansaço físico e mental. É importante lembrar que TAG não é um simples nervosismo, ela afeta seriamente a qualidade de vida e pode levar a quadros de depressão e até ao suicídio.
Também quero deixar uma técnica de como lidar com uma crise de ansiedade, caso ela apareça. Primeiro, pratique a respiração profunda. Inspire contando até sete, segure contando até sete, e expire contando até sete. Essa técnica ajuda a desacelerar o seu ritmo cardíaco. Depois repita quantas vezes for necessário, dizendo a você “isso é ruim, desconfortável, mas vai passar”.
Reconhecer o problema e buscar se acalmar diminui automaticamente a intensidade da ansiedade. A terceira e última estratégia é se concentrar no presente. Observe cinco coisas ao seu redor. Ouça quatro sons diferentes. Toque em três coisas que estão à sua volta. Sinta os cheiros e prove um sabor. Isso vai ajudar trazer a sua mente de volta para o presente e diminuir a ansiedade.
Para finalizar, quero relembrar que o filme Divertida Mente 2 foi lançado recentemente e já alcançou a maior bilheteria de todos os tempos no Brasil, levando mais de 870 mil pessoas ao cinema, o que tem sido excelente para gerar debates sobre a relação entre as emoções e a saúde mental. Mas precisamos ir além do entretenimento, dos memes, da diversão, portanto, se você ou pessoas próximas têm os sintomas descritos, busque ajuda. Com saúde mental não se brinca! Cuide-se e cuide de quem você ama!
Cristiane Amaral, psicóloga com formação em transtorno de ansiedade e depressão no Instituto Albert Einstein